segunda-feira, 28 de março de 2011

Problematizar uma Conquista para a Educação. Carmem Lúcia

Problematizar uma Conquista para a Educação.
Carmem Lúcia Marinho Parreão

Introdução

Quando se fala em problematizar vem logo a nossa cabeça à ideia de que devemos pensar em como orientar uma aprendizagem voltada para o ser que pensa, cria, recria e está sintonizado com o mundo e com as novas tecnologias. Sabendo que alunos e professores não gostam de pensar, costumam querer tudo pronto é mesmo um desafio organizar aulas fundamentadas em situações problemas.
 Uma maneira bem interessante de problematizar os momentos de estudo e nos voltarmos para o trabalho com situações problemas tendo como base o Arco de Maguerez e o método de alfabetização de Freire, podendo assim partir de um problema encontrado na escola, na sala de estudo e até mesmo na sociedade, levando assim o aluno a pensar e a buscar maneiras diversas para solucionar determinado problema sem está dando pistas ou até mesmo nos colocando a frente para apontar caminhos, devemos deixar que o aluno encontre os diversos caminhos para solucionar os problemas, podendo assim refletir sobre os mesmos, pois o papel “crucial do professor” é cuidar da aprendizagem dos alunos os colocando como centro desse processo como afirma: DEMO (2010) “A aprendizagem deve está centrada no aluno é esta deve ser preocupação crucial do professor”.
 A aprendizagem por problematizacão visa o ser que pensa que busca ser autor e que é capaz de assumir responsabilidade com o trabalho de pesquisa individual e em grupo, mas é necessário que o professor deixe os alunos caminharem com suas próprias pernas construindo assim uma aprendizagem significativa.
Pois segundo Demo (2001, p.48) “a mente humana não armazena propriamente dados e informações,mas o processa reconstrói redimensionando,revelando sempre a atividade de sujeito capaz de interpretação própria.” O aluno deve sempre está sempre pesquisando, lendo e produzindo para que não sejam meramente reprodutores, mas sim autores da sua própria aprendizagem.

Como problematizar com a ajuda das tecnologias tendo como ponto crucial a pesquisa?

As tecnologias hoje são as portas de entrada para a aprendizagem dos nossos alunos é necessário que educadores saibam utilizar - lá como uma grande aliada no processo de construção do conhecimento, em muitos casos o professor ainda não domina as tecnologias impossibilitando o manuseio dessa técnica em sua sala de aula, estando assim contribuindo de forma negativa no processo de orientação e desenvolvimento criativo dos alunos.
          O profissional da educação deve buscar aliar problematizacão, pesquisa e elaboração própria levando o aluno a se tornar sujeito crítico, autônomos e construtores de conhecimento próprio. Quando falamos em tecnologias devemos apontar os benefícios e os malefícios que ela traz as nossas crianças, quando bem utilizada pode contribuir para pesquisas riquíssimas e elaborações próprias bem fundamentadas, sem deixar de falar nos bons videogames que trabalha o raciocínio rápido e lógico, motivando a criança a resolver os diversos desafios que surgem nos jogos de forma bem problematizada, contribuindo para que as mesmas resolvam os problemas da vida e de seu dia a dia, como podemos conferir nas palavras de (Demo2010) “Na vida real aparecem continuamente problemas que nos perturbam a ponto de, no primeiro momento, não sabemos para onde ir”. Quando a criança é levada a pensar e resolver situações problemas, os problemas que surgem em sua vida serão solucionados facilmente através de sua capacidade crítica e autônoma formada através da pesquisa, pois esta é a ferramenta que leva o individuo a ser independente, levando o mesmo, a saber, selecionar seus próprios materiais de estudo para retirar as informações necessárias para a resolução de determinado problema.
           Como sabemos a internet hoje é uma grande aliada para as pesquisas estas devem ser orientadas e acompanhadas pelo professor, pois o aluno não pode se desviar do foco que é a pesquisa do problema que o grupo está estudando para se desvendar. O papel do professor é de está instigando o aluno como vai estudar determinado problema sem esquecer que a pesquisa é do aluno, pois ele é o centro do processo de aprendizagem. Devemos ter cuidado nestas fontes de pesquisa como a internet, ela pode ser aliada, mas quando mal utilizada pelas crianças pode nos trazer grandes problemas como: produções sem autoria, mera cópia, respostas prontas, e sem esquecer que tem muitas crianças que acessam sites proibidos, mas é dever do professor orientar e acompanhar todas as etapas da pesquisa.

    Segundo Demo (1991) e Joana (2010) “é necessário que o processo educacional, além de formar ideologicamente, visando á emancipação, seja também tecnologicamente competente, com o objetivo de recuperar a centralidade da educação para o desenvolvimento” “na condição de lugar estratégico de gestação de inteligência criativa da sociedade” (p.166). No mundo de tantas tecnologias a problematizacão é uma grande aliada para que formemos estudantes que corresponda às anseios da sociedade e cumpram o verdadeiro papel da escola que é de formar cidadãos críticos capazes de atuar na sociedade.
         Podemos perceber que as ferramentas tecnológicas contribuem significativamente para a metodologia da problematizacão onde os alunos poderão entrar em discussões, ler várias informações e reconstruí-las através de como as interpretam. Como nos diz: Demo (2010) “A aprendizagem por problematizacão favorece a prática da pesquisa como principio educativo”, (Demo, 1996), é através da pesquisa que os alunos têm a oportunidade de ter um melhor desempenho em suas autorias, onde pode se perceber a participação mais ativa dos estudantes no meio em que estar inserida.
Não posso aqui dizer que apenas as tecnologias contribuem para aprendizagem por problematizacão, pois aprendemos de muitas maneiras e faz-se necessário que utilizamos o que deu certo, tentado encaixa-la nessa metodologia que é de natureza interdisciplinar, pois trabalha com grupo em que cada um tem um olhar diferente sobre um determinado problema, mostrando assim á biodiversidade da natureza, pois em suas sábias palavras nos diz Demo (2010). “Vê-se melhor um problema, quando vemos juntos e procuramos,juntos, alguma solução.” Quando estamos em grupo buscado resolver um problema torna-se mais prazeroso dividir as descobertas que fazemos em nossos momentos de pesquisa, podendo assim encontrar a solução que todos anseiam.
         Para que educados trabalhem juntos é importante que sejam desafiados, pois num mundo globalizado o que temos a fazer é deixar dúvidas para que o aluno seja um pesquisador que questione e construa seu próprio conhecimento, ou seja, que formemos seres capazes de fazer a diferença onde quer que estejam.            

Muitas vezes queremos ter alunos que tenham todas estas habilidades, mas é impossível quando nas escolas ainda se vive das aulas instrucionistas, onde o professor da tudo pronto e o aluno apenas engolem tudo, para que essa mudança aconteça o professor deve se colocar em seu devido lugar, que para muitos não é fácil, pois estão acostumados a da aula, mas se queremos que os alunos realmente aprendam é necessário que os coloquemos como centro desse processo, só assim os alunos terão êxito e uma educação de qualidade.
 Por isso a necessidade de trabalhar com a metodologia da problematizacão, pois ela deixa de lado as aulas instrucionistas dando lugar a um processo participativo dos alunos. Como fala Demo (2010). “Um dos traços mais importante da aprendizagem por problematizacão é o desenho de um processo participativo de pesquisa, exigindo fundamentação teórica, capacidade de solução de problemas, habilidade crítica, organização produtiva do trabalho”. É essa metodologia que deve ter todas as escolas, onde os alunos terão que trabalhar em grupo, pesquisar, argumentar, questionar e retomar para a resolução do problema.

Como trabalhar com a metodologia da problematizacão nas escolas?

        Para que essa metodologia seja trabalhada nas escolas é fundamental que conheçamos suas características Demo (2010) cita três: “i) aprendizagem instigada por problemas abertos, mal definidos e mal estruturados; ii) em geral os estudantes trabalham em grupo; iii) papel docente é de “facilitador” (orientador e avaliador)”. Estas três características têm como objetivo mostrar como se dar uma aprendizagem por problematizacão o primeiro passo é deixar de dar tudo pronto pro aluno, o segundo é motivar os estudantes a ver a importância do trabalho em grupo, para que possam alcançar seus objetivos e o terceiro é mostrar qual é o lugar do professor que é apenas o orientador e avaliador desse processo colocando sempre o aluno como centro do mesmo.
          Para que essa nova metodologia da problematizacão seja implantada em todas as escolas são necessárias também que os educadores conheçam o “método do Arco de Charlez Maguerez que foi apresentado por Bordenave e Pereira, apresenta-se como uma idéia metodológica bastante apropriada para se experimentar na prática vários princípios de uma Pedagogia Problematizadora, visando uma educação transformadora da sociedade.” Nessa metodologia o papel da educação é transformar a sociedade, mas para que isto aconteça devemos seguir alguns passos do Arco de Maguerez que aqui venho falando.  A primeira é partir da realidade vivida por um determinado grupo na vida real. Quando se fala em vida real os alunos são levados a voltar seus olhares de forma mais atenta para o meio que o cerca identificando os problemas que necessitam de uma solução o mais rápida possível de acordo com essa identificação partimos para outra etapa.
        De acordo com a identificação dos problemas pelos alunos será escolhido pelo grupo o que eles vão investigar tentando identificar os fatores que contribuíram para surgir esse problema, partindo para os questionamentos sobre o tema escolhido, buscando as razões que levaram a existência desse problema construindo assim pontos – chaves para esse estudo, partindo daí os alunos irão definir as fontes de pesquisas necessárias para o estudo de todo o problema é nesse momento que o trabalho em grupo é fundamental, pois como diz Demo (2010) “Os estudantes são empurrados a assumir responsabilidade pelo trabalho próprio e coletivo, tendo no professor suporte mediador”. Sabendo que nessa etapa é que os alunos irão conhecer sobre o problema, pois já terão feito um estudo minucioso, sobre a orientação de seu professor podendo assim encaminhar para a solução desse problema ou pelo menos esteja mais próximo dessa solução.
        Depois de todos os estudos realizados pelo grupo será o momento de comparar as idéias do início, ou seja, o que tinha do senso comum com as de agora depois do estudo cientifico do problema analisando as visões de todo o grupo de estudo compreendendo melhor e tendo consciência da influência que esse problema tem sobre o meio social. Sabendo que são a partir da Teorização que serão elaboradas as hipóteses estas devem ser bem ousadas para que as ações possam fazer a diferença no meio onde o problema foi extraído.
       Não quero aqui que educadores adotem apenas esse método, mas que complemente – o com outros métodos que vem ao encontro com essa metodologia de problematizacão como o método de alfabetização de Freire, pois sabemos que Freire defende uma educação libertadora indo de encontro com o Arco de Maguerez, que propõe que o individuo resolva problemas de seu meio, podendo ser um individuo que construa ações voltadas para a transformação da realidade podendo exercer seu papel enquanto sujeito emancipado.
Para Paulo Freire (1983, p.80),
  “a educação problematizadora, de caráter autenticamente reflexivo, implica num constante ato de desvelamento da realidade .Quanto mais problematizam, os educandos,como seres no mundo e com o mundo, tanto mais se sentirão desafiados.E quanto mais desafiados, mais obrigados a responder ao desafio,e desafiados eles vão compreender o desafio da própria ação de captar o desafio. E precisamente porque captam o desafio como um problema em suas conexões com os outros num plano de totalidade, não como algo já petrificado, algo já definido, a compreensão tende a torna-se conscientemente crítica e por isso cada vez mais desalienada”.

        Quando Freire nos fala em educação problematizadora está deixando bem claro que esta possibilita ao educando sair do estado de alienação e se voltar para uma atitude de mudança, é fundamental que o educador proporcione ao aluno essa oportunidade de transformação de sua realidade. E quanto mais o aluno é desafiado, mais ele sente a necessidade de buscar, estando assim aprendendo sempre algo novo, pois a cada desafio são desafiados a uma mudança, saindo assim do estado de acomodação tomando consciência da necessidade de mudança é nessa mudança que o educando irá utiliza todo o seu conhecimento praticando uma ação que transforme sua realidade.
        Para que essa metodologia seja utilizada nas escolas é necessário que os professores se libertem da educação tradicional baseada na transição de conhecimento e na experiência do professor e utilizem à metodologia da problematizacão que se baseia na pesquisa e na construção do sujeito critico e atuante na sociedade. É então que Demo (2010) nos diz “que é crucial a perspectiva de incentivar a autonomia/autoria discente, em especial porque se espera isso hoje inapelavelmente, para a vida e para o mercado. Um dos pontos mais importantes é aprender a estudar.” Demo apenas nos confirma que para que tenhamos alunos autônomos primeiro precisamos motivar a pesquisa como centro de autoria e autonomia para que os estudantes realmente aprendam a estudar, pois os professores em sua maioria não aprenderão isso nas universidades, por isso valorizam tanto a aula reprodutiva, que não leva o aluno a pensar muito menos a pesquisar, repetindo assim uma prática bem distante da metodologia da problematizacão.
Posso aqui relatar um pouco de minha experiência em sala de aula, como a maioria dos professores eu também já me preocupei apenas em dar aulas, tomar notas e passar conteúdos aos alunos, pois foi assim que aprendi o tempo todo desde estudante das séries iniciais até o ensino superior , pois agora estou passando por esse processo de autonomia e autoria, que não me foi oportunizado nas series iniciais e nem na universidade e agora tive essa oportunidade com a implantação do projeto “Aprender Bem” que  é orientado pelo Pedro Demo, e tem o objetivo de fazer com que professores e alunos aprendam bem através de leitura e produção própria, pois o professor deve ser um eterno pesquisador para que possa proporcionar aos seus alunos  não uma aula mas um momento de estudo onde ele exerce seu papel de estudar, pesquisar e elaborar com mãos próprias e que veja no professor um orientador e avaliador de sua aprendizagem.
Demo (2004) afirma que:
A avaliação “oficial” é a  “prova”, assim como ensino “oficial” “aula”.Ambas são
caricaturas pálidas ou deturpantes da aprendizagem mais autêntica. A prova muito
pouco avalia, se partimos que aprender, sendo atividade “aoutopoiética”(formativa,
de dentro para fora), não se manifesta apenas, muito menos, sobretudo,em domínio
memorizado de conteúdos,como ocorre em “vestibulares” tradicionais. A aula,se
for reprodutiva de conteúdos instrucionistas,não motiva o saber pensar,autonomia e
emancipação dos alunos, tornando-se, mais facilmente, em empecilho ao evitar que
se pesquise e se elabore, entre outras atividades cruciais da aprendizagem mais
profunda.

 Podemos notar que o autor deixa bem claro que uma avaliação tradicional assim com a aula torna-se empecilho para que nossos alunos construam conhecimento levando os mesmos apenas memoriza conteúdos que não tem nada a ver com uma aprendizagem significativa, muito menos com uma aprendizagem por problematizacão. É também uma alerta para repensamos como estamos avaliando os nossos alunos será que estamos avaliando de forma a cuidar que ele realmente aprenda? Pois a avaliação e essencial na construção do sujeito que soluciona os problemas de sua vida e da sociedade.

CONCLUINDO

Embora muito se fale na metodologia da problematizacão ainda é um método que precisa ser mais utilizado principalmente nas escolas, desde as séries iniciais para que professores e alunos se conscientizem que necessitamos parar com as aulas instrucionistas é começar a aprender a estudar, pesquisar e elaborar utilizando principalmente as tecnologias e os métodos do Arco de Maguerez e o método de Paulo Freire como grandes aliados para o desempenho das habilidades necessárias para que os alunos possam atuar na sociedade globalizada, em que o conhecimento faz o diferencial para que cada um tenha um espaço de atuação, e o professor e quem orienta e avalia todo este processo de construção de conhecimento.
Demo (2004:11) acrescenta: “A definição de professor inclina-se para o desafio de cuidar da aprendizagem, não para dar aula.Professor é quem está mais adiantado no processo de aprendizagem e dispondo de conhecimentos e práticas sempre renovadas sobre a aprendizagem, é capaz de cuidar da aprendizagem da sociedade garantindo o direito de aprender.”
   Portanto precisamos deixar para trás o professor tradicional que tem dentro de cada um de nós e corrermos atrás do novo profissional da educação que se preocupa com a aprendizagem do aluno o colocando como centro de todo o processo educativo só então podemos formar sujeitos, crítico autônomos e construtores de conhecimento próprio, mudando assim a realidade da educação através de praticas renovada.

REFERÊNCIAS

DEMO, P.2010. Aprendizagem por problematizacão.
DEMO, P.2004. Ser professor é cuidar que o aluno aprenda. Porto Alegre: Mediação.
DEMO, Pedro. A Pesquisa como Principio Científico e Educativo. São Paulo: Cortez, 1990.
JOANA, P.2010. A inserção da tecnologia no contexto sócio-educacional.
FREIRE, P. A pedagogia do oprimido. 13. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

Um comentário:

  1. Texto é bom; mas está pequeno, tem poucas referências (centra-se demais em textos meus). Vale como exercício para transformar a relação pedagógica na ETI, deixando para trás o instrucionismo.
    Pedro Demo

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