quarta-feira, 30 de março de 2011

PROBLEMATIZAÇÃO COMO METODOLOGIA DE APRENDIZAGEM

PROBLEMATIZAÇÃO COMO METODOLOGIA DE APRENDIZAGEM


Rosana Carvalho Matos (2011)

INTRODUÇÃO

            Como se sabe, a aprendizagem do aluno é o objetivo principal do educador.  Quando se fala em aprendizagem escolar, esta deve ser criteriosa, pois sabemos que as crianças de hoje são o futuro de amanhã e para isso devemos ajudá-las em todos os sentidos, e adotarmos a metodologia da reconstrução do conhecimento, tendo como base a leitura, pesquisa e elaboração, as quais devem andar juntas no processo educativo. Pois, “Quem ensina carece pesquisar; quem pesquisa carece ensinar. Professor que apenas ensina jamais o foi”. (DEMO, 1999). É para isso, que os profissionais da aprendizagem devem abrir suas mentes e colocar na prática a teoria, mediando os conhecimentos possíveis para seus alunos e fazer com que os mesmos tenham sua própria autonomia. Assim, a aprendizagem será significativa para o aluno.
            Evidentemente, a aprendizagem deve está centrada no aluno, o professor é um mero mediador que tem como propósito despertar na criança a vontade de crescer. O profissional da aprendizagem deve se preocupar ao máximo em mediar informações que favoreçam os educandos, a possibilidade de transformá-las em conhecimento, tornando-se assim autônomo e construtor da sua própria aprendizagem. Uma das maneiras eficaz para isso é trabalhando sempre a aprendizagem por problematização.  Nesse sentido JEAN PIAGET afirma que:
“A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe".
     Pois, alunos que pesquisam só crescem, além de enriquecerem seu vocabulário, e tornarem-se pessoas descobridoras e críticas. Dessa forma, os profissionais da aprendizagem devem procurar métodos e fazer sua ação educativa a partir das razões dos educandos.


1-O PROFESSOR COMO MEDIADOR DA APRENDIZAGEM ATRAVÉS DA PROBLEMATIZAÇÃO

          Para se ter um bom conhecimento é preciso dedicação, persistência e habilidade, isto é, buscar e pesquisar para se ter bom êxito. Tanto o educador quanto o aluno precisam ler, interpretar, pesquisar e produzir, ou seja, precisam estar sempre se atualizando. A aprendizagem já faz parte do nosso cotidiano e cabe a nós, inovarmos, pesquisarmos e estarmos buscando ampliar o nosso conhecimento, dando oportunidade para que o aluno possa criar e recriar sua própria situação de aprendizagem.
          DEMO (2004) destaca que:
“Para que o aluno pesquise e elabore, torne-se autônomo e criativo, precisa de professores que tenham, de maneira eminente, tais qualidades”.

          Ou seja, assim como o profissional da aprendizagem precisa ser autônomo, o aluno também precisa. Ambos devem pesquisar, produzir e elaborar suas próprias ideias. Devem      trabalhar em parceria, um ajudando o outro e acima de tudo, ser bons pesquisadores, elaboradores em detrimento à mera cópia. O professor tem o dever de fazer com que seus alunos compreendam a aprendizagem como um desafio reconstrutivo, destacando a pesquisa como seu ambiente próprio e usando métodos convenientes. Pois, para se ter uma aprendizagem significativa é necessário ter como premissa básica, a pesquisa e metodologias problematizadoras.
          Nestas condições, os educadores precisam se envolver mais na pesquisa para orientar as crianças de forma correta, e sempre está sistematizando os momentos de aprendizagem criando problemas e/ou propondo questões desafiadoras, pois a aprendizagem deve estar centrada no aluno, compartilhando o que sabemos com eles. Dessa forma as atividades devem desafiar os alunos, bem como estimulá-los a ir sempre em busca das possibilidades de respostas. Para isso, é necessário que tenhamos em mãos situações problemas que levem os aprendizes a raciocinarem, pesquisar e buscar soluções cabíveis, dessa forma valorizarão mais ainda os estudos. Nesse sentido, Weimer (2002) deixa claro que:

Professores insistem menos em atividades de rotina (dever de casa, por exemplo), principalmente não podem oferecer receitas prontas ou questões que encontram solução linear em qualquer apostila; é fundamental oferecer aos estudantes problematizações que os levem a questionar e questionar-se como pesquisadores, valorizando mais o processo de busca do que as soluções; torna-se central aprender a estudar, pesquisar, elaborar, bem como saber ler (contraler).”

          A função do professor quanto à aprendizagem, é provocar o aluno estimulando-o a descobrir coisas novas, oportunizando-o a aprender por problematizações. Também deve acompanhar o rendimento de cada aluno garantindo-lhe a capacidade de continuar a aprender sempre. Pois a peça principal da escola é o educando, este tem que receber informações que os levem a ir à busca de novos horizontes. Muitos professores não se preocupam com a aprendizagem de seus alunos e estão em sala apenas por causa do dinheiro e não por amor a profissão. “Dão aulas”, ao invés de promover tempos de estudos que aprimorem os conhecimentos dos educandos. Acredito que a sala deve ser um espaço onde  o profissional da aprendizagem deve instigar o aluno à vontade de aprender a aprender.
Na visão de Paulo Freire (1983),

“A educação problematizadora, de caráter autenticamente reflexivo implica num constante ato de deslevamento da realidade” Quanto mais se problematizam os educandos, como seres no mundo e com o mundo, tanto mais se sentirão desafiados.

O referido autor reforça que, o professor que desafia seus alunos ajuda-os a captarem melhor as ideias. Profissionais que não “facilitam” a aprendizagem, mas criam propostas desafiadoras, que levam o aluno a pensar, com certeza estes terão um bom desempenho, construirão sua própria história e enfrentarão desafios podendo encarar e intervir melhor na sua realidade. Nesse sentido Jean Piaget esclarece:
“O professor não ensina, mas arranja modos de a própria criança descobrir. Cria situações-problemas.”
            Enquanto alguns profissionais fazem de seus alunos verdadeiros descobridores, muitos agem de forma contrária. Não percebem que a criança tem de conviver com a realidade, fazer experimentos e despertar interesse quanto aos estudos. A ideia que estes professores têm é só de “dar aulas”, ficam falando, falando e não se preocupam com o aprendizado das crianças. É dever do professor encaminhar o aluno na direção certa, fazendo-o perceber que os desafios são indispensáveis para seu próprio conhecimento. Com isso, Piaget mostra que:
“Para alcançarmos do aluno uma aprendizagem significativa ele precisa mostrar ser construtor de suas ideias onde ele possa ao mesmo tempo fazer uma análise de que os desafios são necessários para sua aprendizagem”.
           
Convém, no entanto lembrar que, o educando reconhece seus modos de vida e constrói sua própria história quando este tem em mente o processo de escuta. Pois ouvindo bem, a criança se posicionará melhor diante de suas ideias, podendo concordar ou discordar de algo sem medo. Os mesmos têm a necessidade de saber como podem interferir quando se depararem em meio aos problemas da realidade. Por isso, escutar é oportunizar ao outro a fala e exposição de suas opiniões. A esse respeito Freire declara que:

“Escutar é obviamente algo que vai mais além da possibilidade auditiva de cada um. Escutar, no sentido aqui discutido, significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, as diferenças do outro. Isto não quer dizer, evidentemente, que escutar exija de quem realmente escuta sua redução ao outro que fala. Isto não seria escuta, mas auto-anulação. A verdadeira escuta não diminui em mim, em nada, a capacidade de exercer o direito de discordar, de me opor, de me posicionar. Pelo contrário, é escutando bem que me preparo para melhor me colocar, ou melhor, me situar do ponto de vista das idéias. Como sujeito que se dá ao discurso do outro, sem preconceitos, o bom escutador fala e diz de sua posição com desenvoltura. Precisamente porque escuta sua fala discordante, em sendo afirmativa, porque escuta, jamais é autoritária”.


2- APRENDIZAGEM POR PROBLEMATIZAÇÃO ATRAVÉS DA PESQUISA

          A aprendizagem através da pesquisa é fundamental no progresso da postura reconstrutiva do conhecimento e da formação de pessoas comprometidas com o saber pensar. Para isso, profissionais da aprendizagem devem orientar os aprendizes a terem habilidade no ato de pesquisar. Pois, o conhecimento do aluno avança quando este tem bons desafios a resolver.
          Para tanto, torna-se necessário que o professor planeje atividades interessantes e desafiadoras que de fato contribuam para que o aluno aprenda, ou seja, planejar atividades instigadoras, onde o educando possa pensar e colocar em jogo tudo o que sabe sobre o conteúdo proposto. É fundamental que o professor explicite aos alunos os propósitos das atividades que devem ser realizadas, pois assim eles terão a oportunidade de tomar decisões e encontrar soluções possíveis diante das situações-problemas.
          O profissional da aprendizagem ao invés de corrigir os possíveis erros dos alunos, pode incentivá-los a descobrirem, pois dessa forma o aluno será desafiado a pensar e colocar na prática o que aprendeu.  Um exemplo disso e leva-los a  pensar em como se escreve determinada palavra ou determinado trecho. Dessa forma, o aluno passa a compreender que é necessário escrever dentro de padrões convencionais.
          Vale ressaltar ainda que nesse processo o professor atue como mediador da aprendizagem, ou seja, deve cuidar para que o aluno aprenda. É necessário colocá-los em contato com materiais diversos e atuar como coadjuvante, realizando boas intervenções, pois as mesmas contribuem para que o aluno avance. Quando colocamos nossos alunos diante de uma diversidade de materiais, estamos oportunizando a eles a tomada de decisão, a argumentação de ideias, como também a construção e reconstrução de seus próprios conhecimentos.
          Para DEMO (2002):

“Aprender não é acabar com as dúvidas, mas conviver criativamente com elas. Por parte do professor, não se trata, “jamais de tirar dúvidas”, mas sim fazer outras tantas. (...) Conhecimento é processo dinâmico de questionamento permanente, não gerando respostas definitivas, mas perguntas inteligentes.
          Ou seja, sempre que estou com minhas crianças em tempos de estudos, surgem algumas dúvidas que os fazem virem em direção das educadoras para saber o significado de tal palavra. Claro que não falamos de imediato o que elas querem saber, e sim distribuímos dicionários para que pesquisem e fiquem sabendo por si próprias, outras vezes fazemos questionamentos para que elas descubram aonde querem chegar.  É isso que faz com que os aprendizes cresçam em busca do conhecimento e não entregarmos tudo pronto, pois quem não estimula a criança a pensar nunca fará dela uma pessoa autônoma e/ou crítica.
           DEMO, (1996) salienta que:
“Aprendizagem por problematização favorece claramente a prática da pesquisa como princípio educativo”.

          Pois, a pesquisa enriquece e eleva o ego dos educandos, levando-os a se sentirem pessoas confiantes, autônomas. Além do mais, é buscando que se conhece, é conhecendo que se aprende, é aprendendo que se tem a certeza de que devemos buscar mais e mais sempre. Entretanto, é a pesquisa que faz com que a criança seja capaz de agir com autonomia, sendo autora de suas próprias ideias e ações. A pesquisa tem essa vantagem: exige um sujeito que questiona, e questionando o sujeito obterá resultados mais amplos.
          Como anteriormente já disse, a pesquisa é uma das formas mais adequadas de se obter conhecimento, pois é através dela que a criança descobre e tira todas suas dúvidas e incertezas, além do mais, crescerá sendo capaz de buscar, inovar e acima de tudo ser independente. No entanto, a criança que não pesquisa suas chances de evoluir enquanto cidadão critico são mínimas. Não aprende a aprender e nem saberá elaborar seu próprio conhecimento. Pesquisar requer disposição, tempo e muita leitura, para poder analisar e interpretar o que se leu. Facilmente se presume que, a pesquisa é um ponto forte para se obter uma educação de qualidade.
          Demo (2002) ainda diz:

“Lugar do professor não é no centro do processo, mas na orientação dele. No centro está o aluno. (...) Torna-se clara a posição maiêutica desse tipo de professor, cuja função principal não seria jamais, substituir simplificar, facilitar, banalizar a aprendizagem do aluno, mas torná-la viável e tanto mais profunda e qualitativa. Instiga, motiva, desafia, inquieta, instabiliza... “Não dá nada pronto.”

             Como se pode observar, professores que entregam tudo pronto para o aluno, limitam a capacidade do mesmo aprender e ir atrás do que se deseja. O ideal é focar na aprendizagem do aluno direcionando-o de forma sábia e cuidando para que se tornem leitores, autores e pesquisadores, verificando se realmente estão aprendendo. A esse respeito, WEIMER (2002), diz que:
“Aderir à noção do aluno como centro foca a atenção diretamente na aprendizagem: o que o aluno está aprendendo, como o aluno está aprendendo, as condições sob as quais o aluno está aprendendo, se o aluno está ampliando e aplicando sua aprendizagem, e como a atual aprendizagem posiciona o estudante para aprendizagem futura”.

É prática de alguns professores serem autoritários, ficam na sala “aquele só falando, falando e não aceitam opiniões de seus alunos fazendo com que eles percam a noção da construção de sua autonomia. O educador que age dessa forma por que gosta de se aparecer, ser o centro das atenções, quer comandar, e desconhece a maneira como realmente transformar informações em conhecimento. Fazendo isso, acaba ignorando a vontade da criança de ser capaz de tomar o destino em suas próprias mãos, de ter livre acesso para aprender cada vez mais. Por isso, é importante lembrar que o bom professor é aquele que implanta em seus alunos a vontade de aprender, desconstruir e reconstruir os conhecimentos que lhes foram dados, e para que isso aconteça o professor também ter que ter qualidades que faça com que a criança se espelhe nele. A esse respeito Demo enfatiza que:
Conhecimento não é feito para ser guardado, mas para ser dissipado, sempre refeito, desconstruído e reconstruído”.


PARA CONCLUIR:

            Podemos dizer que o professor tem que ter a preocupação de estimular o raciocínio lógico da criança com atividades que as ajudem a manter o pensamento equilibrado. Atividades lúdicas e desafiadoras para que o educando tenha o desejo de ir atrás de suas conquistas. Até porque educadores e educandos caminham juntos em busca de conhecimentos que enriqueçam e valorizam o seu ego.
            O ideal é usar métodos que problematizem a aprendizagem da criança, pois profissionais que pensam certo fazem com que as crianças cresçam transparentes e tenham capacidade de intervir no mundo e conhecer o mundo. O professor além de despertar o interesse no aluno, deve estimulá-lo a ler, pesquisar, produzir e elaborar suas próprias ideias.
Portanto, os profissionais da aprendizagem precisam ser além de pesquisadores, desafiadores, mediadores amigáveis, amáveis, carinhosos,  para despertar no educando a vontade de aprender bem e sonhar alto, um sonho elevado, porém possível. A este propósito Rubem Alves (1994) deixa claro que:

“O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudo começa com um ato de amor. Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento é o sonho. Por isso os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos.”





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DEMO, P. 1996. Educar pela Pesquisa. Autores Associados, Campinas.
DEMO, P. O desafio reconstrutivo político da aprendizagem. Grandes Pensadores em Educação (pp. 07-. 33). Porto Alegre: Mediação. ...
DEMO, P. 2004. Ser professor é cuidar que o aluno aprenda. Editora Mediação, 4º edição
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 13 a. Ed, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983..
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

PIAGET, Jean. Aprendizagem e Conhecimento. In: Aprendizagem e conhecimento. Tradução Equipe da Livraria Freitas Bastos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1974.

PIAGET, Jean. O Desenvolvimento do Pensamento. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1977. 228 p.

RUBEM A. Alves – A alegria de ensinar, - Publicado por Ars Poetica, 1994, ISBN 8585470410, 9788585470418 – 103 páginas.
Weimer, M. 2002. Learner – Centered Teaching: Five Key changes to practice. Jossey- Bass, New York.






2 comentários:

  1. Muito bom texto. Muita reflexão e compromisso com a boa aprendizagem do aluno. A ETI precisa quebrar o padrão tadicionalista e ingressar no futuro...
    Pedro Demo

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  2. Texto maravilhoso! Desmistificando o autoritarismo em sala de aula, e fazer do aluno o principal personagem da educação libertadora, dando autonomia e resgatando sua auto estima.

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